Dia 6


6. A FAFIFÓ

Formosa ainda tinha um aspecto muito interiorano na década de 1980 e não parecia estar em condições de sediar uma instituição de ensino superior. O contraste com Brasília, símbolo de modernidade e desenvolvimento, reforçava ainda mais essa impressão. Era compreensível, então, que a FECLISF fosse vista com tanta desconfiança e se tornasse até alvo de pilhéria. O apelido Fafifó foi o símbolo maior de toda a zombaria lançada contra a instituição.

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ASCENSÃO E QUEDA DE UMA ZOMBARIA
 
O termo Fafifó foi criado por brasilienses com o objetivo de zombar dos goianos, como era muito comum nas décadas de 1980 e 1990. O costume, aliás, ainda hoje pode ser notado. Fafifó era a sigla da Faculdade de Filosofia de Formosa, uma instituição inexistente, embora alguns brasilienses acreditassem que a FECLISF era esta instituição e tinha este nome. O tom ridículo do termo está presente em sua sonoridade e também no inusitado que seria a existência de uma faculdade voltada para estudos filosóficos em uma cidade tão pequena e interiorana. Aos poucos, o termo se tornou bastante conhecido no Distrito Federal e passou a ser usado como sinônimo de faculdade que oferece ensino precário.

Resquícios da zombaria podem ser achados na internet. Um exemplo vem do oeste baiano. Antes da fundação da Universidade Federal do Oeste da Bahia, foi anunciado que a sigla da instituição seria UFOBA (porém, foi adotada oficialmente a sigla UFOB). O escritor Carlos Barbosa achou que UFOBA tinha péssima sonoridade e publicou em seu blog (Minicontos) um miniartigo jocoso ridicularizando a sigla. O primeiro comentário publicado pelos leitores foi o seguinte:

Lembro de quando fazia o ensino médio e ríamos da FAFIFO [sic], a Faculdade de Filosofia de Formosa...

A zombaria incomodava, é claro. Mas recuou. Muitos estudantes da FECLISF (e professores formados pela instituição) moravam e trabalhavam no Distrito Federal. Eram eles que, mesmo sendo brasilienses, reagiam ao ver a Faculdade ser ridicularizada. Agiam como os principais defensores da FECLISF na capital federal (principalmente na região de Sobradinho e Planaltina). A defesa se intensificou com a criação da UEG. Atualmente, a antiga pilhéria existe apenas residualmente e, em Sobradinho e Planaltina, talvez se possa até dizer que nem existe mais.

FILOSOFIA EM FORMOSA
 
Filosofia em Formosa já foi motivo de zombaria, mas é algo que se faz cotidianamente no campus da UEG. Alunos e professores debatem sobre temas filosóficos em diversas atividades de pesquisa, extensão e ensino. No curso de Pedagogia, por exemplo, funcionou uma disciplina chamada Filosofia da Educação que expunha em sua ementa:

O saber pensar como capacidade de articulação da teoria com a prática (práxis) e o saber intervir como capacidade de transformar a realidade considerando o contexto social no qual se está inserido.

A faculdade voltada para estudos filosóficos chamada Fafifó era uma mera invenção jocosa, mas filosofar em Formosa, hoje, é algo muito sério e real.

ALÉM DE FAFIFÓ: DIFERENTES DENOMINAÇÕES

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Formosa: Foi a denominação instituída pelo decreto que criou a Faculdade. Durou apenas alguns meses. Outras instituições criadas na mesma época pelo governo estadual também foram chamadas de Faculdade de Educação, Ciências e Letras.

Faculdade de Educação, Ciências e Letras Ilmosa Saad Fayad (FECLISF): O nome da instituição foi alterado pela primeira vez em maio de 1986. Além de homenagear uma personalidade formosense, a nova denominação deu origem à sigla da Faculdade.

Unidade Universitária de Formosa: Em 1999, a FECLISF foi incorporada à UEG e passou a ser chamada de Unidade Universitária de Formosa. Também era chamada apenas de Unidade de Formosa.

A Lei 16.836, de 2009, estabeleceu que a denominação deveria ser Unidade Universitária da UEG de Formosa. Esta denominação, porém, foi pouco usada. Predominou a forma já usada desde 1999.

A sigla para Unidade Universitária era UnU. As denominações UnU de Formosa e UnU Formosa eram usadas com o mesmo significado.

Câmpus Formosa: O Regimento Geral da UEG aprovado em dezembro de 2014 passou a usar a denominação câmpus no lugar de Unidade Universitária. A mudança foi assimilada rapidamente em quase toda a Universidade. A Unidade Universitária de Formosa, então, passou a ser chamada de Câmpus Formosa. Alguns preferem usar o termo latino campus, sem acento.

UEG-Formosa: Embora seja uma denominação extraoficial, deixa bem claro a qual instituição se refere e, às vezes, é usada oficialmente.

ILMOSA SAAD FAYAD NO NOME DA FACULDADE

Ilmosa Saad Fayad foi escritora e entrou para a história de Formosa ao compor a letra do hino da cidade. Por ser uma defensora da educação e da cultura, seu nome foi incluído na denominação dada em 1986 à Faculdade de Formosa. Inevitavelmente, o fato de Ilmosa ser parente do prefeito José Saad e da Diretora Ivone Saad levanta suspeitas sobre a legitimidade e validade da homenagem.

Suspeitas sobre o apreço dos formosenses por sua obra, porém, não há.

Walter Gualberto de Brito, por exemplo, exalta a poesia de Ilmosa Saad em seu livro Memórias de uma família negra brasileira – os inquilinos da casa amarela e até inclui a poetisa na mesma linhagem intelectual de Olympio Jacintho, grande historiador de Formosa e intelectual-símbolo da cidade.

Na Prefeitura de Formosa, Ilmosa Saad Fayad também recebeu uma homenagem. No salão de entrada, um quadro expõe uma foto sua e, ao lado, um manuscrito com a letra do hino da cidade.

FAFIFÓ E FAFIFOR
 
Não existiu uma Fafifó em Formosa, mas existiu uma Fafifor em Fortaleza, capital do Estado do Ceará. A Faculdade de Filosofia de Fortaleza (Fafifor) foi fundada em 19 de março de 1973 e era uma instituição ligada à Igreja Católica. Quinze anos depois, foi fechada. Seus propósitos, depois, foram restaurados e desembocaram na atual Faculdade Católica de Fortaleza.